Intolerância sem Limites
José Luiz Datena & Pablo Henrique Costa Marçal
Você e eu não deveríamos estar surpresos com a pancadaria (literalmente) que se revela no cenário político brasileiro, né? As cenas exibidas pela TV Cultura na semana passada, apesar de assustadoras, são absolutamente previsíveis, não?
Há mais de duas décadas temos alimentado movimentos de separação bem representados pelo discurso do “nós contra eles”, que separa uma parte da outra e descredencia o diferente ultrapassando, sem pudor, os limites da verdade. Um vale-tudo a pleno vapor.
Muitos são os protagonistas desse processo, que tem sido dominante e garantido plena presença no alto escalão do planalto central desde 2003. E lá se vão 21 anos, idade da minha filha do meio que nasceu nesse berço de extremismo e cisão social. Referências contundentes na formação da cultura de toda uma geração.
Mas como toda ação gera reação, esse movimento de oponência desmedida trouxe uma leva de experts ainda mais poderosos que não param de aparecer na forma cada vez mais parruda e pronta pra porrada. E isso não apareceu de repente, né? Foi sendo plantado, regado e está sendo colhido nos últimos anos, em colheita cada vez mais robusta.
Triste realidade, né?
É, mas nenhum de nós tem direito de reclamar dela porque somos todos adubadores de trogloditas como as figuras da foto, cada vez que nos apegamos a uma parte sem considerarmos a outra como borda existencial essencial da nossa opinião.
Seja em discurso ou ação, tomamos a postura do “nós contra eles”, buscando sempre identificar o diferente como oponente. E toda essa força aplicada no descredenciamento do próximo, volta amplificada, seguindo a mesma direção e o sentido aposto até atingir você e eu.
E continuamos nessa toada, tentando preencher nosso vazio de alma com a lama dessa armadilha dualista.
Quanto tempo mais precisa passar para notarmos que o deBATE tá exaurido? Expirado, mesmo! Será que não poderíamos navegar em uma outra agenda? A de continuidade, reconhecendo as virtudes do outro e construindo a partir delas?
Pois é, mas há dificuldades para isso acontecer. E tá faltando referências, também. Elas até existem mas não estão visíveis. Isso sem falar no tempo escasso, porque a Terra tá girando sem parar, cada vez mais pronta pra nos expulsar daqui. E nós, distraídos, assistindo a todo esse circo.
E não adianta achar que essa conversa não é contigo! É contigo. Comigo. Com todos nós. Isso tudo tá presente na política, na televisão, na internet, na empresa, na família, no clube, nas ruas.
Precisamos nos olhar. A si e ao outro. Contemplativamente. E colocar LIMITES À INTOLERÂNCIA.
Já!